sexta-feira, 1 de junho de 2012

dos verões da minha infância.

1.
dos dois aos seis anos vivi numa casa com um quintal enorme. foi no caminho da entrada, ladeado por árvores, que aprendi num sábado ao final da tarde a andar de bicicleta. havia uma zona em terra, onde cultivavámos legumes; o banco de areia onde brincavámos, deliciados; e o baloiço. não nos faltavam amizades: nas casas da rua o que mais havia era crianças. mas a praia que nos ficava a cerca de duzentos metros de distância era-nos proibida. num desses verões quebrámos a promessa. fomos castigados.

2.
aos seis anos despedi-me desses amigos. trocámos a aldeia dos avós paternos pela terra dos avós maternos. voltavámos, como os emigrantes, nas férias de verão. tínhamos o primo e os netos dos vizinhos do lado que vinham de frança. os pais trabalhavam, mas a tia e os avós não nos deixavam faltar nada. os dias passavam entre brincadeiras, idas a praia, o campo, a avó a ralhar preocupada ora com os canteiros ora com a possibilidade de partirmos um braço ou uma perna, e as tentativas de comunicarmos com o jeremy, a aurélie, o jerôme e a amélie. demain, tu va a la plage? agosto trazia a festa da aldeia, as noites quentes a ajudar a tia nos andores floridos, os carrocéis e as roulottes onde se vendiam as cassetes da moda. os primeiros dias de setembro traziam a melancolia das coisas boas que terminam e o adeus a amigos queridos que só tornaríamos a ver no verão seguinte (na altura o mark ainda não havia inventado o feicebuque).

3.
quando a mãe tinha férias combinava idas à praia ou ao rio com as irmãs e os sobrinhos. eram tardes de brincadeira com os primos que culminavam com um banho de mangueira no pequeno quintal lá de casa. a gente adorava e pedia, pedia muito. mas os adultos nem sempre deixavam. 

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recordo toda a minha infância como se tratasse de um verão interminável. já aqui afirmei que não me  lembro de um único dia de chuva. não acredito que não chovesse lá fora. mas cá dentro, tudo foram raios de sol. dos banhos de mangueira, matei saudades um dia destes em que o termómetro na planície alentejana marcava mais de trinta e cinco graus. de vez em quando sabe bem deixar sair a criança que (ainda) vive em nós.

2 comentários:

  1. Sinto o mesmo... na infância, o Verão significava 3 meses seguidos sem aulas, 3 meses seguidos de sol, praia e momentos fabulosos.

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  2. Querida Doroteia, adorei ler os relatos dos teus Verões de infância! :)
    Cheios de brincadeiras e amizades das quais, ainda te recordas do nome. E tal como dizes, são recordações tão boas que nem te lembras de existirem dias de chuva. :)

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